A FIOM [Federação dos Metalúrgicos] convocou uma greve geral dos trabalhadores de todas as fábricas do Grupo FIAT para 21 de outubro, sexta-feira. Trata-se da primeira mobilização dos operários da multinacional de Turim convocada pela Federação ligada à CGIL [principal central sindical italiana] depois de muito tempo.
Dada a importância histórica da FIAT na Itália, que se mantém até hoje, apesar da crise que a afetou gravemente, assim como todas as multinacionais do setor automobilístico, os resultados desta disputa terão um impacto, positivo ou negativo, em todos os trabalhadores.
Uma longa atitude antioperária
A política sindical da empresa sempre foi hostil aos trabalhadores e aos sindicatos combativos. Não somente em relação à história de confrontos entre a empresa, o sindicato e os trabalhadores desde sua fundação, mas também em relação a fatos mais recentes, como as demissões de delegados sindicais independentes ocorridas nos últimos anos; os milhares de processos disciplinares impostos todos os anos aos operários, etc.
O salto de qualidade da gestão Marchionne
Todavia, sob a gestão de Marchionne, assistimos a um salto de quantidade e de qualidade na política da empresa desde junho de 2010. A FIAT iniciou um ataque duríssimo a seus operários e à FIOM, sem economizar golpes, com a introdução de um novo contrato coletivo para os trabalhadores da FIAT de Pomigliano. Em essência, foram eliminados os direitos dos operários, dando um sinal aos trabalhadores do Grupo e ao conjunto dos trabalhadores: o tempo das negociações habituais entre as empresas e os sindicatos acabou. Existe um patrão com o qual os funcionários têm um só dever: obedecer e trabalhar em silêncio.
Dizia-se, na época, que o comportamento da FIAT se devia a dificuldades específicas para gerir uma fábrica como a de Pomigliano. Nela, os trabalhadores se opunham às condições de trabalho muito pesadas há anos, a um sistemático recurso à Caixa de Integração1 e, portanto, a salários reduzidos pela metade.
Como o PdAC havia previsto, o caso de Pomigliano não foi um caso isolado, uma exceção, ainda que infeliz. Mais cedo ou mais tarde, todas as outras unidades do Grupo seriam atingidas por essa medida autoritária, que seria depois expandida a todos os trabalhadores italianos. Assim foi: primeiro com a Mirafiori em Turim, depois a Bertone em Grugliasco. Para as fábricas de Termini Imerese, Irisbus de Avellino e CNH de Imola, optou-se pela solução extrema: fechamento e demissão de milhares de trabalhadores.
Para os demais operários, próprios e terceirizados, a nova política da FIAT foi concretizada pelo acordo entre os sindicatos e a Federação das Indústrias em 28 de junho de 2011 e o Artigo 8 do recente pacote financeiro do governo. Em ambos os casos, o modelo Marchionne é adotado, decretando na prática a morte do contrato nacional de trabalho e a destruição dos sindicatos por ramos de produção. Em seu lugar, entram os sindicatos por empresa, com o objetivo claro de ligá-los e subordiná-los às exigências dos capitalistas, colocando os operários das várias empresas em concorrência entre si.
Um ataque a todos os trabalhadores
Uma vez que o apetite vem com a comida, a FIAT não para e, com o anúncio da saída da Federação das Indústrias a partir de janeiro de 2012, afirma indiretamente que deseja liberar-se das negociações nacionais e contratos coletivos. Como explicar este comportamento? O setor automobilístico foi o mais atingido pela crise de 2008, e a FIAT, que é a mais fraca entre as grandes empresas do setor, encontra-se há tempos em fortes dificuldades. É também a que menos investe em pesquisa e desenvolvimento, por causa do seu fraco balanço, e, portanto, procura recuperar os lucros aumentando a exploração da mão de obra. É óbvio que, numa situação como essa, qualquer mínimo obstáculo ou atraso em seus planos aparece para a direção da empresa como um atentado à sua sobrevivência.
A direção da FIOM: realismo ou oportunismo?
Mas essa atitude é facilitada pela falta de resistência das entidades sindicais: não só a CISL, a UIL e a CGIL não se opõem aos planos da FIAT, mas a própria FIOM, que é vista por muitos como o último baluarte de defesa dos operários, tem grande responsabilidade pela situação na qual se encontram hoje os trabalhadores da FIAT e os demais.
Landini, secretário do setor metalúrgico da CGIL, que denunciava o acordo de Pomigliano como o primeiro passo para um ataque generalizado aos trabalhadores, não foi consequente com esta premissa: não só não chamou a greve por tempo indeterminado em Pomigliano para derrotar os planos da empresa como também não fez um apelo à mobilização de todos os trabalhadores do Grupo, como uma greve geral contra a política da FIAT, da Federação das Indústrias e do governo que, além das diferenças de fachada, têm o mesmo objetivo: dar um golpe mortal no proletariado.
Em Mirafiori, quando os operários responderam com uma avalanche de “Não” no referendo “fraude” sobre o acordo, Landini se limitou a denunciar a empresa à justiça burguesa: com quais resultados? Que os juízes, não sendo árbitros acima das partes, reconheceram, apesar das próprias leis feitas pela burguesia, o direito dos patrões de impor nas fábricas a sua lei, demonstrando mais uma vez que os juízes não são mais do que guardas do capital e dos seus interesses.
Na fábrica Bertone, Landini bateu todos os recordes de cinismo e oportunismo, dando liberdade para que a Representação Sindical Unitária (RSU, espécie de Comissão de Fábrica), dirigida pela FIOM, assinasse um acordo idêntico ao de Pomigliano e Mirafiori.
Por esses motivos, a greve de sexta-feira corre o risco de ter chegado muito tarde, e de encontrar uma classe operária desencorajada pelas muitas ocasiões perdidas no último ano e meio.
Generalizar o conflito social: por um verdadeiro outono quente
Nós acreditamos que o jogo ainda não está decidido, pois estamos na previsível véspera de um crescimento das lutas na Itália, como já está ocorrendo, com ritmos diferentes, em várias partes da Europa.
Os operários de Termini, Avellino e Imola mostram isso ao não aceitarem que outros determinem o seu futuro. Mas também os operários da Ferrari de Maranello, a “joia da coroa” da FIAT, que decidiram que não limitarão sua luta à greve do dia 21, mas continuarão até que a empresa reconheça os seus direitos, sindicais e salariais, deixando de tratá-los como escravos em troca de um salário que não permite uma vida digna. E, enfim, uma prova de que nada está perdido chega com a enorme demonstração do dia 15 de outubro. Mesmo que a manifestação de rua tenha sido impedida pela repressão burguesa, que se aproveitou da desorganização da manifestação desejada pelos grupos que a promoviam e pela intervenção infantil dos vários “quebradores de vitrine”.
Usando como pretexto os fatos do dia 15, o governo – muito mais preocupado com o possível crescimento das lutas operárias do que com qualquer anarquista – anunciou um endurecimento das normas repressivas. O primeiro ato, com acordo do prefeito de Roma, foi proibir os operários de marchar pela cidade no dia 21. A burguesia e seus políticos - de centro-direita e centro-esquerda - não têm medo de qualquer dezena de pseudo-anarquistas, mas de milhares de operários que podem realmente bloquear o país, como está ocorrendo na Grécia e nos países árabes, a partir do Egito, onde a classe operária foi protagonista da derrubada de Mubarak.
A burocracia sindical, como Landini e Airaudo, também é consciente desta possibilidade e procura evitar aquilo que eles chamam de “incidentes” por todos os meios: fingem usar uma linguagem “radical”, quando na realidade foram constrangidos a proclamar a mobilização, que se prevê imponente, porque não podiam fazer o contrário. Ao mesmo tempo, estão prontos para trair as justas expectativas e reivindicações dos seus representados na primeira ocasião. Disseram isso explicitamente na assembleia nacional dos dirigentes da FIOM no mês passado, anunciando a disposição de “congelar o conflito”, a partir de um chamado de volta à mesa de negociação com os patrões.
O 21 de outubro deve ser uma jornada de lutas sem trégua contra patrões, governo, políticos da burguesia e burocratas sindicais que, numa espécie de nova União Sagrada, tentam desesperadamente evitar que a situação fuja das suas mãos.
O PdAC participa da mobilização com estas palavras de ordem:
- Não ao acordo do dia 28 de junho!
- Não ao plano “fábrica Itália” da FIAT!
- Aumento dos salários para recuperar o poder de compra!
- Abolição das leis de precarização. Transformação dos contratos de trabalho precário em contratos por tempo indeterminado!
- Salário mínimo garantido para os trabalhadores e salário social para os desempregados!
- Plenos direitos civis e sindicais para os trabalhadores imigrantes!
- Ocupação e nacionalização, sem indenização e sob controle operário, da FIAT e de todas as empresas estratégicas, a partir daquelas que demitem ou recorrem à Caixa de Integração!
- Que a crise seja paga pelos patrões e banqueiros!
- Fora o governo Berlusconi! Por um governo dos trabalhadores!
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Nota:
1. Consiste no pagamento pela Seguridade Social de parte dos salários dos trabalhadores em caso de suspensão ou redução da jornada de trabalho, mas ainda não demitidos.
Tradução: Rodrigo Ricupero
Fonte: Sítio da LIT-CI