A greve dos petroleiros terceirizados da Bacia de Campos estourou no dia 21 de junho, como havia sido decidido na assembleia da categoria, mas algumas plataformas já haviam se antecipado. Com muita dificuldade de comunicação entre o comando de greve em Macaé e as plataformas de petróleo em alto-mar, o movimento insurgiu com grande força tomando dezenas de plataformas.
Lideranças como Cleison, com apenas 2 meses de empresa e um filho de um ano pra criar, organizava a resistência, mesmo na certeza de ser demitido, seja a greve vitoriosa ou não. Ficamos sabendo que outras plataformas de uma empresa privada, a Shain, que não faz parte do sindicato e, sequer integra o acordo coletivo, também paralisou suas atividades. Os trabalhadores do ramo da hotelaria e suprimentos das plataformas também sinalizaram a possibilidade de unificarem suas greves.
O sindicato, que desde o início era contra a greve, não elaborou nenhum plano de piquetes nos aeroportos, de onde partem as aeronaves para as plataformas de petróleo, nenhum material de propaganda da greve foi distribuído, boicotou várias vezes a imprensa e fazia discursos derrotistas a todo o momento. Todas as iniciativas operacionais da greve foram tomadas por trabalhadores voluntários, desde os piquetes ao sistema de informação.
Na greve de qualquer fábrica, qualquer peão de liderança sabe da necessidade da agitação, dos piquetes e da propaganda na porta e no chão da fábrica. Imaginem a ausência de toda essa propaganda de greve, numa categoria disposta em mais de 40 plataformas quilômetros distantes da costa, sendo duramente reprimida pelos supervisores e Gerentes de Plataformas, tendo sua comunicação cortada pela Petrobrás, e à mercê de todo tipo de chantagem e propaganda da patronal. As empresas afirmavam que a greve havia acabado e que o movimento já estava isolado. Muitos grevistas foram bruscamente desembarcados das plataformas, mas o movimento resistia.
No dia 22, a patronal chama para negociar a proposta rebaixada de 12 %, para os que estão abaixo do piso salarial, e 8% para os que estão acima desse piso, sem grandes alterações no restante das reivindicações. O sindicato convoca então a categoria para uma assembleia, com o claro objetivo de desmontar a greve.
Ameaças e banditismo na assembleia da categoria
No dia 27, cerca de 80 operários enchiam o auditório do sindicato, tomados pelo sentimento da derrota de uma greve que já começava a sentir os duros golpes da patronal e do sindicato (SINTPICC). Diretores e capangas do sindicato se posicionaram para garantir que o Sr. João Rodrigues do SINTPICC, se sentisse bastante confortável em golpear a greve do alto de sua cadeira de presidente.
Foi imposto por ele que ninguém falaria na assembleia, a não ser a diretoria e a comissão de greve, e quem tentasse falar seria retirado do auditório. Um operador da Petrobrás, ativista do movimento de petroleiros, pediu para falar e levar solidariedade à greve, mas também foi ameaçado e acusado pelo presidente do sindicato de se tratar de um infiltrado. Mas os trabalhadores resistiram e forçaram o burocrata a voltar atrás e abrir as falas. Ao final, a maioria dos trabalhadores presentes, mesmo insatisfeitos, votou pela suspensão da greve. Os que foram a favor da greve foram coagidos pelo presidente a dar o nome e a empresa em que trabalhavam.
O SINTIPICC é dirigido por uma família há mais de 20 anos. Os filhos do “dono” deste sindicato cresceram e tornaram-se diretores. Não há eleições há muitos anos e todas as oposições que foram formadas contra essa família sofreram todo tipo de ameaça.
Macaé é uma das cidades mais estratégicas para a economia nacional. A grande maioria dos petroleiros de todo o país está concentrados neste lugar. Nossa luta vai muito além dos nossos salários. Ela tem a ver com o projeto estratégico da luta de nosso povo por saúde, educação, alimentação, moradia e dignidade. Produzimos um produto que gera guerras e golpes de estado em todo o mundo e é isto que está em jogo quando essa classe se levanta.
Quando fechávamos essa matéria, descobrimos que em algumas plataformas distantes os trabalhadores resistiam e encampavam a greve. Muitos trabalhadores estão indo ao sindicato e falam no retorno da greve na semana que vem.
MIGUEL FRUNZEN, DE MACAÉ (RJ)
Fonte: Sítio do PSTU
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