O governo de Papandreu tem o apoio dos deputados, mas não da população. As novas medidas exigidas pela UE e pelo FMI para entregar o dinheiro que já tinham prometido vão afundar mais a economia grega e, sobretudo, os trabalhadores e os setores mais desfavorecidos.
O pacote votado há um ano para obter a concessão do “resgate” implicou no corte dos salários dos servidores públicos em 15% e até 30% dos trabalhadores das empresas públicas. As aposentadorias foram rebaixadas em 10% e a idade de aposentadoria das mulheres aumentou de 60 para 65 anos. Além disso, dois mil professores foram demitidos com o fechamento ou fusão de colégios, e o IVA aumentou. Essas medidas draconianas serviram ao Executivo não para sair da crise, mas para pagar os prazos e juros da dívida. Após um ano, a situação econômica da Grécia não só não melhorou como continua piorando. Ao cortar os investimentos do Estado e os salários da população, a economia invariavelmente se retrai. O desemprego oficial passou de 11,7% para 15,9% no último ano; 30,5% dos jovens e 35,8% das mulheres estão desempregados.
Mas para os bancos internacionais e para a Alemanha e a França, em particular, não importa que a economia grega continue afundando devido às medidas impostas. O que querem é que seja garantido o pagamento da dívida que eles mesmos geraram. Os novos empréstimos obtidos pelo governo grego são cada dia a juros mais altos. A Grécia tem que pagar juros cinco vezes maiores que os da Alemanha e com uma economia quase em bancarrota. O mecanismo é o seguinte: o Banco Central Europeu e o FMI dizem à Grécia “vamos conceder um empréstimo para que paguem o que nos devem, mas agora o custo será maior”. Mas, ao mesmo tempo, impõem que continue comprando armamento destes países. A Grécia aumentou o orçamento militar no ano passado, chegando a ser o mais alto percentualmente dos países da OTAN, só perdendo para os EUA.
Agora, atrasaram a entrega do empréstimo com o qual tinham se comprometido para o mês de junho. As novas negociações para que a Grécia obtenha este empréstimo incluíram como “garantias” um novo pacote econômico. O governo de Papandreu terá que cortar 150 mil empregos estatais e aprofundar as privatizações das empresas estatais. Venderão 49% das ferrovias estatais, 39% dos Correios, 23% da companhia da água potável de Salônica (a segunda cidade do país), 100% da empresa de loterias do Estado. 10% da operadora nacional OTE já tem comprador: Deutsche Telekom.
Estas novas medidas significam uma profunda colonização dos países centrais da Europa sobre a Grécia. O fato de fazer parte do Euro deixa-lhe sem nenhuma possibilidade de manobra, enquanto as medidas a serem tomadas são impostas em troca de que não declare a suspensão do pagamento da dívida. Este novo pacote vai deixar a economia grega ainda mais arrebentada, com centenas de milhares de desempregados a mais, com cortes na educação e saúde públicas, mas enchendo os bolsos dos banqueiros.
O primeiro-ministro Papandreu, do Pasok (partido social-democrata, como o PSOE), declara que não há mais remédio e ganhou um voto de confiança de seu parlamento. Mas os trabalhadores e o povo grego têm outra opinião. Assim como fez o Movimento 15M na Catalunha, os gregos também rodearam o parlamento exigindo de seus deputados que não votem os cortes impostos pela UE e pelos Bancos Internacionais.
Já convocaram a terceira greve geral deste ano e as mobilizações foram crescendo, sendo a da praça Sintagma (em frente ao parlamento) uma das maiores dos últimos tempos. Papandreu busca se legitimar para levar adiante o pacote com o apoio de seus parlamentares. Os gregos, que há um ano lhe deram a maioria eleitoral, já não o querem porque viram como mentiu mais uma vez. Promete soluções - como o PSOE na Espanha - para depois votar pacotes e cortes. Para barrar este novo pacote que irão aprovar só resta a luta para derrubar o governo.
Como dizem os gregos, não se deve pagar a dívida porque é ilegítima, e se “fosse” legítima seria, em todo caso, imoral, porque supõe a destruição de um país. As soluções que o capitalismo nos oferece para sair da crise não só não nos tiram dela como nos afundam mais, nos deixam sem direitos e mais explorados do que antes. Zapatero diz que é necessário fazer os cortes para que não sejam impostos, como foram à Grécia e a Portugal, mas o resultado é o mesmo: os cortes chegam. Temos que fazer como na Grécia: Greve Geral contra os ataques do capitalismo.
José Moreno Pau
Fonte: Sítio da LIT-QI