É a famosa greve de 1984, quando trabalhadores ocuparam a fábrica e Exército invadiu empresa
Há 27 anos, uma greve marcou a história dos metalúrgicos de São José dos Campos e região. É a famosa greve de 1984 na Embraer, quando os trabalhadores ocuparam a fábrica por três dias e o Exército invadiu a empresa.
Em agosto daquele ano, em meio à ditadura militar e um cenário de lutas no país contra as perdas com a inflação, por mudanças na política econômica do governo e por democracia, os metalúrgicos foram à luta por equiparação salarial.
Começou no dia 9 de agosto. Os trabalhadores permaneceram dentro da fábrica por três dias, para pressionar a empresa a negociar.
Mas então veio a repressão. A estatal, sob o comando militar, determinou a intervenção da polícia da Aeronáutica, que invadiu a empresa para reprimir o movimento.
A Embraer ficou sitiada pelos militares, como relatou a imprensa à época. A ordem para que a Aeronáutica reprimisse a greve veio do próprio ministro, conforme atestou o então presidente da Embraer Ozires Silva.
Os trabalhadores foram escoltados para fora da empresa, por um "corredor polonês", sob a ameaça de fuzis, numa demonstração do autoritarismo e repressão.
Mesmo após o fim da ocupação, a Embraer afastou e depois demitiu por justa causa 134 trabalhadores e fez intensa perseguição a diretores do Sindicato: João Pedro Pires e Francisco Assis de Souza.
Na cidade, era grande a revolta pela arbitrariedade de empresa e do regime militar. Vários atos de protesto às demissões foram feitos nas fábricas, cidade e até em Brasília.
Como represália ao movimento, a Embraer ainda cancelou a eleição da Comissão de Fábrica.
Em 1989, após a promulgação da Constituição de 1998, que garantiu o direito de greve, o Sindicato entrou com um processo na Justiça em defesa destes trabalhadores, que foi vitorioso quase dez anos depois. A empresa teve de pagar todos os direitos trabalhistas devidos desde a demissão ilegal.
Luta pela anistia
A empresa e o Exército fizeram toda uma pressão e intimidação sobre os trabalhadores. O DOPS colheu depoimentos dos grevistas em interrogatórios que demoraram até cinco horas, como relatam companheiros.
"Queriam saber de tudo, por qual motivo fizemos a greve, de que organização política éramos. Foi feita uma verdadeira inquisição com cada trabalhador", lembra Getúlio Guedes, um dos demitidos de 1984, em entrevista para um vídeo produzido pelo departamento do Sindicato sobre as greves da Embraer na década de 80.
As demissões buscaram atingir as lideranças da greve, ativistas ou qualquer pessoa que a Embraer e o regime pudessem considerar "subversivos".
Carlos Alberto Cavalcante, demitido da greve de 84, lembra a perseguição a que foram submetidos. "O coronel Ozires chegou a falar na minha cara: "vocês vão servir de exemplo para todo o Vale do Paraíba e não vão trabalhar nunca mais nem em São José dos Campos, nem em outro lugar do país", conta Cavalcante.
Foi uma clara perseguição política a estes trabalhadores e, por isso, em 2008, depois de muitos anos de luta, o governo brasileiro concedeu anistia política aos demitidos de 1984 da Embraer.
"A concessão da anistia é uma reparação histórica a estes companheiros, que perderam seus empregos e foram perseguidos pela ditadura militar. Mas é preciso mais e por isso, os trabalhadores e o Sindicato lutam hoje pela reparação econômica, assim como foi concedida aos demitidos da greve de 1985 da GM", disse o vice-presidente do SIndicato, Herbert Claros.
VEJA VÍDEO QUE DESTACA A LUTA DOS TRABALHADORES DA EMBRAER E AS GREVES NA DÉCADA DE 80.
Fonte: SINDMETALSJC
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