Os metalúrgicos da CAF-Brasil, fabricante de vagões de trem e metrô instalada em Hortolândia (SP), encerraram no fim da manhã desta sexta-feira, 27 de maio, a greve iniciada no dia 10 de maio, conquistando mais uma vitória, desta vez na Participação nos Lucros e Resultados (PLR).
Esta foi a quinta paralisação em menos de dois anos. Como as anteriores, começou espontaneamente no chão da fábrica. A radicalização foi tamanha que os trabalhadores rejeitaram até mesmo o estado de greve por 48h, medida legalmente necessária para o reconhecimento da greve pela Justiça, e iniciaram imediatamente a paralisação.
Uma dura queda de braço contra o patrão
Em 2010, A CAF ofereceu míseros R$ 1.100 de PLR, o que levou os operários a realizarem uma greve de 15 dias que arrancou R$ 4.300. A greve deste ano pela PLR teve início quando a empresa, depois de dobrar a produção com o aumento de horas extras, ofereceu R$3.800, ou seja, R$ 500 a menos do que os trabalhadores haviam arrancado no ano passado!
Mal começou a greve no dia 10 de maio, os advogados da empresa acionaram a Justiça, exigindo a abusividade da greve e fazendo a chantagem de só negociar se a produção voltasse. Houve uma audiência de conciliação onde a CAF subiu a PLR para R$4.300. Mesmo sabendo do risco que é o julgamento de ilegalidade de uma greve, os trabalhadores rejeitaram a proposta da empresa. Numa nova audiência, o Juiz propôs o pagamento de R$5 mil de PLR e orientou a volta ao trabalho sem decretar a ilegalidade do movimento.
No entanto, em assembléia na segunda-feira, 23 de maio, os operários fizeram uma contraproposta ao Juiz e à empresa: R$ 6 mil de PLR, 90 dias de estabilidade, abono de todos os dias parados e decidiram esperar uma resposta da empresa ainda paralisados. O sindicato dos metalúrgicos levou estas três reivindicações à uma negociação direta com a empresa. Como resultado da negociação, a CAF levantou uma nova proposta: R$ 5.500 de PLR, 60 dias de estabilidade e que os dias parados fossem julgados no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). A empresa ainda chantageou: caso os trabalhadores não concordassem com essa proposta, os salários do mês não seriam pagos em 30 de maio. Perante a chantagem da CAF, os trabalhadores decidiram continuar paralisados.
Exemplo de auto-organização
Nos dias 26 e 27 de maio, quinta e sexta-feira, auto-organizados na frente da fábrica, através de pequenos grupos que depois se juntavam em assembleia sem o carro de som, os trabalhadores discutiram democraticamente uma nova contraproposta à empresa. Esta forma de organização das assembleias, no momento crítico da greve, foi fundamental para que todos os trabalhadores pudessem falar sem que a empresa os ouvisse, preservando sua identidade e estabilidade.
Na manhã de sexta-feira, depois de dois dias de discussão, os trabalhadores votaram uma nova contraproposta: R$ 5.500 de PLR, 60 dias de estabilidade e o abono de todos os dias parados. A empresa aceitou os R$ 5.500, os 60 dias de estabilidade e disse que abonaria 07 dias da greve e que os 05 dias seriam compensados pelos trabalhadores em sábados alternados.
Numa nova votação, ainda nessa mesma manhã, os trabalhadores decidiram encerrar a greve e voltar ao trabalho na segunda-feira, 30 de maio. A greve representou uma vitória dos trabalhadores, pois o acordo fechado foi superior ao do ano passado, representando um aumento de 27,9% no valor da PLR.
Vitória da democracia operária
Com mais esta greve vitoriosa, os trabalhadores da CAF demonstraram que é possível, em meio a uma dura queda de braço contra o patrão, fortalecer a auto-organização no chão da fábrica. A luta foi conduzida desde o início por um pequeno e combativo grupo de cipeiros com o apoio do sindicato e de militantes da CSP-Conlutas Metalúrgica.
A presença da CSP-Conlutas no conflito foi fundamental para possibilitar o dialogo e unidade dos trabalhadores para derrotar o patrão. A democracia operária foi se impondo na prática como uma necessidade. Nas assembleias sem o carro de som, as contrapropostas à empresa foram surgindo, eram debatidas e só depois de muita discussão eram votadas.
Esta auto-organização permitiu uma tripla vitória dos trabalhadores: 1) Porque conquistaram uma vitória econômica, ao aumentar em quase 30% o valor da PLR deste ano; 2) Porque obtiveram uma vitória política contra a empresa, obrigando-a a negociar e evitando que a greve fosse julgada ilegal pela Justiça.
Em terceiro lugar, o mais importante: os operários da CAF deram um salto em sua experiência com a democracia operária, garantindo a mais completa autonomia e independência em relação aos patrões e a justiça burguesa, dando uma aula de democracia operária ao próprio sindicato dos metalúrgicos e impondo o exercício de sua auto-organização como o método mais seguro para garantir a vitória.
Como tarefa imediata os trabalhadores da CAF terão pela frente um grande desafio: dar corpo a um forte grupo de fábrica que organize os cipeiros combativos, os lesionados e todos os ativistas de luta. Até porque uma nova batalha já tem data marcada para começar: a campanha salarial unificada dos sindicatos dos metalúrgicos de Campinas, São José dos Campos, Santos e Limeira marcada para o segundo semestre.
ANTONIO “CARIOCA”, CIPEIRO DA CAF-BRASIL, DE HORTOLÂNDIA (SP)
Fonte: Sítio do PSTU
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