quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Belo Monte: farra com dinheiro público para as empreiteiras, demissão e cárcere aos trabalhadores que lutam, isto é uma afronta à dignidade!


Por Atnágoras Lopes*

Em todos os noticiários da imprensa brasileira é possível ler a “grande” notícia: “BNDES libera 22,5 bilhões em financiamento para construção de Belo Monte”. Pois bem, esse fato ocorre no mesmo período em que cinco operários, a mando do CCBM (Consórcio Construtor Belo Monte), encontram-se presos e essas mesmas empreiteiras, arbitrariamente, implementam uma demissão em massa que ninguém sabe, e parece não se importar, quantas centenas ou milhares de trabalhadores estão sendo afetados.

Em meio a força dessas manchetes sobre os bilhões de empréstimo, não há como não indignar-se. De um lado, pela natureza do tema em si, ou seja estamos falando de dinheiro público liberado para a inciativa privada, com total desprezo do Governo Dilma para com as causas dos mais pobres, dos ribeirinhos, dos pescadores, dos povos nativos e dos trabalhadores da obra. Somente na região Norte existem 2,65 milhões de pessoas em situação de miséria. Do outro lado, há o fato de que isso ocorre em meio a um conflito trabalhista de extrema gravidade, fruto da arrogância e intransigência do CCBM. Afinal, quem vai intervir contra essa demissão em massa? Como vai ficar a situação dos trabalhadores presos? Ou isso não importa?

Há um clima geral de cidade privatizada e militarizada em Altamira (PA). Pelas ruas da cidade, e entorno das obras, observa-se a presença ostensiva de inúmeros veículos conduzindo homens armados, seja da segurança pública ou privada. Após o conflito, agora, fala-se pelas rodas de trabalhadores, que até um destacamento do Exército será fixado no canteiro da obra. Enquanto isso, o CCBM compra carros para bombeiros, auxilia a polícia e a Norte Energia patrocina um encontro nacional de magistrados que realizou-se recentemente em Belém. Para onde vamos?

Os canteiros estão sendo ainda mais militarizados e o pagamento dos milhares de operários continua sendo feito sob a mira de fuzis, apontados do helicóptero militar contra a multidão que se espreme por horas até passar pelo batalhão de choque e conseguir pegar seu envelope. Além de tudo isso, esses operários seguem obrigados a descontar compulsória e mensalmente para um sindicato que não os defende. E onde está o Ministério Público do Trabalho? Cadê os governos federal e estadual?

Para os operários de Belo Monte, prisões e demissão em massa. Para as empreiteiras do CCBM, mais R$ 22,5 bilhões do dinheiro público foram liberados. Não é possível que tudo isso seja encarado como “normal”. Não podemos perder a capacidade de indignação e, acima de tudo, de assumir opiniões e buscar o engajamento na luta contra as injustiças sociais.

Sonhos de vidas nativas estão sendo ceifados, as esperanças no progresso da “Princesinha do Xingú”, nome carinhoso pelo qual tratam sua cidade os originários de Altamira, estão sendo afrontadas e a dignidade de milhares de operários está sendo agredida e ignorada em nome de um desenvolvimento que retroage aos fósseis das práticas do regime militar.

Lutemos contra!

Liberdade imediata aos operários e companheiros presos em Belo Monte!

Dilma, pare as demissões!

*Atnágoras Lopes é operário da construção civil e da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas 


sábado, 24 de novembro de 2012

Eduardo Galeano: Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?

Israel - Ciranda - O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças.

Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados.

Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos?

De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças. E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada “comunidade internacional”, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antisemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.

Eduardo Galeano: “Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latinoamericanas que Israel assessorou”.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Dia de greve geral mobiliza trabalhadores de 23 países da Europa

Greve contra os cortes da troika e a política de austeridade dos governos é forte em Portugal, no Estado Espanhol, e atinge também Grécia e Itália

Greve geral parou Portugal nesse 14 de novembro

O dia de greve geral unificada na Europa neste 14 de novembro já pode ser considerado um marco na luta dos trabalhadores europeus contra a política de cortes e austeridade imposta pela troika (Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia). Inicialmente convocada em Portugal, ela teve adesão no Estado Espanhol e posteriormente na Grécia, que realizou greve parcial de 3 horas, e Itália (que paralisou por 4 horas). O 14-N contou ainda com mobilizações na Inglaterra, França e em pelo menos 23 países do continente.

Maior greve de Portugal

Em Portugal, a CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses) estima que o 14-N tenha sido “uma das maiores greves gerais já realizadas” no país. Apesar da outra grande central no país, a UGT, ter se negado a convocar a greve, vários sindicatos da base aderiram à paralisação contra os cortes do governo de Passos Coelho.

Como ocorre tradicionalmente, o setor dos transportes foi a vanguarda da greve, que teve também a participação dos trabalhadores bancários, o que não havia acontecido nas greves anteriores. Os serviços públicos, escolas e universidades também pararam quase que completamente no país. Cerca de 200 vôos foram cancelados devido à greve. Ao final do dia, a polícia reprimiu violentamente os manifestantes que protestavam próximo ao Parlamento.

A greve geral em Portugal ocorre no mesmo dia em que é anunciado o mais novo recorde nos índices de desemprego do país, de 15,8% da população. Entre os jovens (entre 15 e 24 anos), essa situação é ainda mais dramática, atingindo 39% dos portugueses. Apesar disso, o governo aprofunda sua política de cortes e flexibilização de direitos.

Mobilização e repressão no Estado Espanhol

O 14-N começou forte também no Estado Espanhol. As centrais sindicais estimam a adesão à greve geral em mais de 75%, o que significa quase seis milhões de trabalhadores de braços cruzados em todo o país. A paralisação atingiu principalmente a grande indústria, com impactos importantes na siderurgia, indústria química e construção. O setor dos transportes e público também parou. Pelo menos 202 vôos foram cancelados. 

A greve geral no Estado Espanhol se enfrentou com a repressão policial, como em Madri e Barcelona, com o saldo de 82 feridos e 34 detidos até o fechamento desse texto.

Repressão a protesto em Madri

Enquanto as centrais sindicais CCOO (Comisiones Obreras) e UGT (Union General de Trabajadores) reivindicam um programa rebaixado, como a convocação de um referendo sobre os cortes e a exigência de uma “negociação” entre o governo de Mariano Rajoy e o congresso, o sindicalismo classista e alternativo se lança à greve exigindo o não pagamento da dívida, o fim dos cortes, não ao pacto social e a “demissão” do governo.

Em Madri, a plataforma "Toma la Huelga" (que reúne grupos como o 15-M e a coordenação do 25-S) fez um chamado para que a greve não se limite aos locais de trabalho, mas para que se ampliem e parem toda a cidade. A convocatória insta ainda o cercamento do Congresso no final do dia.

Estudantes promovem marcha em Roma

Mobilizações estudantis e repressão na Itália

O dia foi também de fortes protestos na Itália. Milhares de estudantes foram às ruas contra os cortes na Educação em 87 cidades no país. Houve repressão e enfrentamentos com a polícia em cidades como Roma, Turín e Milão.

Apesar das limitações e bloqueios interpostos pelas burocracias das cúpulas sindicais, o 14-N representa a primeira ação de resistência articulado e unificado entre os países da Europa, colocando a resposta dos trabalhadores à crise num novo e inédito patamar.

Fonte: Sítio do PSTU